terça-feira, 22 de abril de 2008

Denúncia-crime

Entrei no apartamento e ela já estava lá. Me assustou - e muito -, a princípio. Como boa moça que sou, cheia de frescuras e mimos - diziam por aí que eu era uma menina muito mimada por papai - gritei e corri tudo o que pude. Chamei alguém para me socorrer, mas ela era mais esperta do que eu. Fugiu.

Esse foi o nosso primeiro encontro.

A antipatia natural não me impediu de saber que o convívio seria inevitável, pelo menos, por aquele tempo.

Numa segunda vez, cheguei e lá estava. Esparramada, senhora de si, dona de todo o espaço, zombando da minha autoridade implícita - no sofá, no meu sofá! Ela me ameaçava com o olhar gelado. Mais alguém veio me socorrer, não me lembro mais quem. Novamente, a sirigaita escapuliu, sem deixar qualquer vestígio.

Algumas vezes ela me atormentou. Cheguei a pensar em homicídio; mas, eu, justo eu? Não teria coragem, é a fraqueza que carrego comigo: não matar.

Na noite anterior ao crime, antes da madrugada, lá estava ela: parada, intacta, convicta de seus poderes em mim, estática. Ela me olhava, mais uma vez, zombeteira. Tentei pedir que fosse embora, insistentemente. Fui racional. Ela não me ouvia. Lembro-me perfeitamente, ela estava na entrada, silenciosa, como sempre. O olhar era suficiente.

Até que, aconteceu. Era noite já e eu chegava sozinha. Acendi as luzes da casa, só para verificar. Eu estava atrasada e nem lembrei de nada. Tinha meia hora para estar pronta. Banho, roupa, sapato, maquiagem, copo d´água, sair.

Eu já estava de toalha, dentro do banheiro, quando ela me aborda. Meu susto foi tal qual que fiquei da cor: branca!

Ela correu de mim e eu corri dela.

Pedi de novo, mais uma e outra vez. Conversava com ela, como uma insana mulher conversa com a parede. Nada. Até de querida eu chamei a moça, na tentativa vã de agradá-la. Já eram indícios de meu crime?

Corri e vi a arma do crime. Não planejei, a arma simplesmente estava ali, próxima de mim. Avancei para cima dela com toda a minha altivez, ainda com medo: de novo, nada. Ela não saia de lá! Nem por Decreto do Sr. Prefeito.

Não foram poucas as minhas tentativas, os senhores estão de prova o tanto que ela, fria e calculista, abusou de mim. Irritada e frustrada, resolvi tomar uma dose. Nada mais me acalmaria naquele momento tenso. Percebi que a meia hora que tinha para ficar pronta já havia se esvaído por inteiro, por culpa dela, só dela.

Aquilo me matou de ódio. Larguei o copo e voltei. (Nessa hora, o crime já estava determinado na minha cabeça, confesso.)

Por sorte minha, ou não, ela estava caída, no chão. No chão do meu box. Não pensei duas vezes em ligar o chuveiro na temperatura mais quente possível. Queria matá-la. Fosse queimada, fosse espancada, fosse afogada, do jeito que fosse.

Aquilo estava claro pra mim. Ela esperneou tanto quanto pode e eu jogava água com o chuveirinho, bem na mira dela. Ela rodava, rodava, rodava, tal qual um redemoinho no chão do meu box. (Coitadinha, confesso que tive dó nessa hora.) Mas nada, absolutamente nada, iria me impedir. Era eu contra ela. Afinal, onde estava aquele olhar zombeteiro agora? Ahn, ahn?

Ela desceu ralo abaixo e eu, não contente, quis deixar o serviço completo. Busquei um balde grande, enchi de água e joguei ralo abaixo. Duas vezes. Bati com o pé algumas boas vezes pra ver se nada mais havia agarrado àquele pedacinho de chão.


Estava feito, homicídio doloso. Sem remorso.






Fato é que, no dia seguinte, me aparece no sofá uma lagartixa parecida. A dúvida foi: irmã revoltada ou highlander? Não me é possível. Acho que a veia assassina-de-lagartixas se instaurou, criativa, para mais uma nova jornada, dolosamente.


- Corri, de novo.






4 comentários:

Helena Al. disse...

Fiz um comentário enorme que apagou-se devido a tecnologia que nos asfixia dia e noite.
Estou sendo engolida por erros de sites e que culpa tenho dos erros dos sites????????????
Bosta.
Comento quando a raiva passar.
Raiva do Google.

Anônimo disse...

Fresca!

Anônimo disse...

Ah, olha o meu: paulavivac.blogspot.com
Até postei em inspiração!
Beijo!

Anônimo disse...

Estou aqui reunindo todas as lagartixas, taruíras e, como diz meu filhote, salamandras, para que se organizem em forma de Sindicato e PROCESSEM esta menina-mulher metida a escritora! Serei o advogado delas, gratuitamente. Falta só bolar o nome, SINDILIXAS OU SINDIMALANDRAS...