segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Despedida





Última noite na cidade querida.


Encaixotadas todas as miudezas, embalados todos os móveis, finalizado tudo que fez com que aquela casa fosse minha. O apartamento vazio não tem vida a outros olhos, mas, para mim, ele - que, carinhosamente, me ganhou dia após dia -, de forma singela, é capaz de representar muito.

No começo, a casa era enorme. Depois, vieram os sons e as cores, e ficou tudo aconchegante. E tudo ficou alegre.

Com o apartamento vazio e a última mala na mão, o olhar dos cômodos me dizia muito mais do que eu poderia imaginar no começo. Foram muitas as coisas vividas ali. E foram boas.

Não pude deixar de me sentir saudosa, um pouco triste, um pouco alegre. Saber que vem mais pela frente me faz feliz, mas o apego a uma época maravilhosa deixa o coração um pouco pesado.

Até Dona Orlinda - a minha vizinha velhinha - disse que vai sentir falta dos meus barulhos! Imagina, então, a falta que eu não vou sentir disso tudo...



Mas, em tempo, o Café lá em Casa continua, em novas casas, em novos rumos, em novas aventuras e des-venturas... A Moça de 23 está quase fazendo 24! Santo Deus!


domingo, 16 de novembro de 2008

Sabbats


Cada peça foi importante. Cada detalhe, cada curva, cada desvio. Todos os momentos de intensas saudades, de gritos internos, de loucura externada, de parede alva. Sim, havia momentos em que a brancura das paredes me engolia sem saber pra quê nem porquê: Me cuspiram repaginada.

Perdi as fórmulas, reinventei as perguntas, questionei a minha própria essência. Troquei de nome, de personalidade, me virei do avesso. Emprestei conceitos, criei os meus próprios. Duvidei de mim, trouxe à baila o exótico de ser simplesmente eu. Embriaguei-me dos sentimentos confusos.

Lavei panelas, carreguei mudança no braço, briguei, odiei e fui odiada. Aprendi a esperar, a ser mais tolerante e mais paciente. Fiz vigília, fui à missa, me senti única no mundo, perdida, achada. Lembrei canções de infância nas noites em que tive medo, há muito perdidas na memória. Chorei, muito. Mesmo que por dentro. Senti saudades que não cabiam no meu peito. Ocupei o silêncio das horas com a voz dos meus pensamentos. Muito silêncio.

Mas só assim é que eu me encontrei.

Lá de dentro, não extraí tudo o que podia, mas tudo o que pude. Eu sou até o infinito e de todas as formas que ele pode ser, ainda muito a ser descoberto.



"Valeu à pena?
Tudo vale à pena

Se a alma não é pequena

Quem quere passar além do Bojador

tem que passar além da dor.

Deus, ao mar, o perigo e o abismo deu

mas nele é que espelhou o céu."

(Fernando Pessoa, Mar Português. Recitado desde criança.)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A vida é engraçada. Muda de rumo ao piscar dos olhos. Quando menos se espera, ela vem, joga as cartas do baralho para o alto e mistura tudo de novo para o novo.

Mas é aí que consiste a beleza de se estar vivo.

A piada contada nos butequins só tem graça porque quebra o espírito, assim tal como a graça da vida, que consiste na tradução de um novo amanhã, inesperado. Novo futuro, novas perspectivas, novos desafios, novo aprendizado. Ser sábio, e viver em conformidade com o vento, é agradecer o ensinamento e a multiplicação havida.

Daqui para frente, Barbacena avança de uma nova forma, ou não. Não se sabe. Isso, só o tempo irá dizer. A única coisa que sei é que a cidade querida amanheceu chuvosa.

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terça-feira, 29 de julho de 2008

The sound of it

This is something that deserves to be write in english. That´s because someone deserved.


The red curtains have opened. The theatre begins.

The characters are so far away from each other but that didn´t hinder the show to go on. And it just goes on.
The music was shining the moves, everything was sound, everything was life, everything were them. Can you hear it?

He had appeared like someone who appearead from nowhere, harmless to her. He wooed for the ladies hands with an inviting gesture.
They could dance together, behind the sights, for all night long.

How guess the destiny tricks?

Her crazy things, the nightly roundabout of a taxi one, italian cappuccino desires in the dawn, beautiful day at night. Lots of laughs. All the world around were making sense in a second fraction.

She gone, he after her.
Because the music couldn´t stop.

The wine glasses were watching them behind the candle lights. They were closer. The moonlight was blessing their words, blowed through the wind. The view was magnificent. Everything was magical at that moment.

But like in all the Shakesperian tragedies, he leaves lefting only the roses like her bridesmaid. But her toughts couldn´t leave him. It was done. She was missing his hands, his mouth, his perfume. The perfume of his skin was not there, only the roses one. But that wasn´t enough.

Weird was that were no masks.
And the music couldn´t stop.

And, then, the curtains closed.



But not for long time, I hope.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Casais modernos

Eles se conheceram na balada. Foram apresentados por amigos em comum. Ele é alto e moreno, ela, também. Ele gosta de internet, ela, também. Os dois fumam e bebem cerveja em copo lagoinha. Se identificam pelas músicas em comum, ambos gostam de sertanejo alucinadamente.
Logo, estavam declarando seus sentimentos aos quatro ventos. Não escondiam de ninguém o tanto que se gostavam. Trocaram alianças. Era um casal de carícias e amigos públicos.
Em duas semanas, já diziam eu te amo pra lá e pra cá e programavam o nome dos pimpolhos. Sabiam até a lista de amigos que iriam chamar para o churrasco de casamento.
Dois meses depois, declaravam a todos que ela era nada mais do que uma vaca e ele, nada menos do que um porco saltitante. Ele descobriu que não poderia tolerar o jeito com que ela partia o bife e ela, jamais cogitaria se casar com um homem que não soubesse o que era bouquet.
Nada que uma boa ressaca não curasse. Quem sabe assim não se conhece um novo amor? E lá estavam eles, novamente, trocando juras de amor eterno a novos príncipes e princesas...

A busca eterna por amar e se sentir amado traz a grande parte das pessoas a ilusão do amor. O amor lírico não se desenhou desta forma. Não foi assim que os poetas quiseram... É preciso um pouco mais, é preciso ser tolerante, é preciso se reinventar e se descobrir nos braços de outro. É preciso saber namorar. Olhar com calma, vislumbrar, ver além. Tocar os detalhes. Sentir, curtir. É preciso pegar na mão e, mais, saber a delícia de conduzir e ser conduzido. O abraço de saudade que nunca chega, o cheiro da pele, o gosto do beijo, o sorriso. Dormir encostado, só pra saber que ele está lá. É preciso rir junto e chorar junto também, saber conversar, falar pelos cotovelos. É passear junto, sem ter nada pra fazer, e se sentir completo. São olhos que brilham. É começar de novo, é se apaixonar de novo, uma, duas, mil vezes. É não desistir do amor.

E o que é o amor, do alto da minha singeleza? É se sentir bem ao lado daquela pessoa. É ter um sentimento de paz, de segurança, de saber confiar. De se sentir mais livre por ter alguém para amar. Amor é sentimento de liberdade, de vôo. É cumplicidade. É não precisar dizer nada e dizer tudo.

Amei, duas vezes. De formas diferentes, ambas intensas e verdadeiras.

Amar não é dizer, amar é sentir.

domingo, 6 de julho de 2008

Espelho, espelho meu





A minha face espelhada projeta sua imagem. Olho pra ela com alguma curiosidade. Atento, tento, muitas vezes e em vão, compreender quantas delas existem em uma só. Eu sou só o seu espelho.


O dia amanhece e ela vem até mim, descabelada, ainda de pijamas e com cara de sono. Logo, retorna. Agora ela veste terninho alinhado e saltos altos. Arruma seus cabelos em uma passada de mão com o que os prende, vistosamente, em um coque. Um frugal brinco de brilhantes compõe com o relógio favorito. A maquiagem leve termina o começo da manhã.

Eu sou só o seu espelho.

Ao final do dia, ela transpõe-se de shorts e meia arrastão. Brincos de penas coloridas e tenizinho all star, cabelos soltos ao léu. Pulseiras fazem o barulho de quem as veste. Ela agora é outra, pronta para dançar até o dia clarear. Sensual, seus olhos são traçados negros e a boca vermelho-rubro. Sorri como quem se mostra feliz para mim.

Eu sou só o seu espelho.

O sol alto desperta. Os raios que iluminam o dia refletem em mim seu pijama de ursinho carinhoso, que em nada contrapõe com as pantufas de hipopótamo azul. Coça, vagarosamente, os olhos ainda borrados da noite anterior... nessa hora, seu sorriso é de malandragem e ela é moleca de casa.

Eu sou só o seu espelho.

A hora do almoço traz a menina de vestidinhos esvoaçantes e sandalinhas baixas de sábado de arco-íris. Ela passa por mim, leve e saltitante, como quem não pede nada, enquanto dança pela casa pliés, relevés e piruetas. Seu rosto não traz mais pinturas. Ela agora é só ela. Eu, reverente, observo todos os seus movimentos.

Eu sou só o seu espelho.

De faixa na cabeça, rabo-de-cavalo bem alto e blusão de menino, ela tira o suor do rosto e faz a faxina do que sobrou do final de semana. E é assim que ela me olha, maliciosamente cúmplice, e começa tudo de novo, pronta para o risca-de-giz.

Eu a observo, curioso. Eu sou só, e tão-somente, o seu espelho. Quantas são?

sábado, 21 de junho de 2008

Rio de Janeiro, 40 graus

A claridade incendiava os seus olhos enquanto o vento de feição escrevia seus passos. O sentimento de tocar os pés na areia, que há muito não sentia, tocou a sua alma. Respirou fundo o cheiro salgado que vinha do mar. Aquele cheiro tinha gosto de liberdade, tinha gosto de prazer.

O vento rodopiava seus cabelos, sem rumo, sem direção. Ela gostava dessa sensação. O vento tinha cores, impressionantemente, cores de todas as cores. Cores de alegria, cores de infância e bossa n´roll, que traziam todos os sentidos a um só: o de estar ali.

Ela trajava os seus passos, enquanto pregava cada vez mais firme pé ante pé nas dunas de areia.

Sua pele tocou o mar, e com ele, tocou seu corpo. Não era mais a mesma, a imensidão havia mudado. O som absoluto de suas vozes havia mudado, ela agora escutava todos os sons do mundo no canto do vento. E eles falavam alto. Se sentia abençoada.

Todos caminhavam com ela; naquele momento, ela era todos e uma só.


O Rio tem gosto de quê?

Tem gosto de sal. Tem gosto de mar. Tem gosto de língua que alisa a pele.
A pele desnuda, a carne viçosa das mulatas de samba, do burburinho dos passos, que gingam ao som. O som do vento, vento de cores multicoloridas no vôo da gaivota rajante. Céu esculato de paisagem, guardião dos sonhos e segredos da gente do mundo, do riso sem pressa, da vida boêmia, da noite de luz.


A alma é leve, a vida não tem medo de seus próprios passos. Ela dança ao luar, marejado de pegadas na areia. Pegadas traçadas com o suor do corpo e a benção de Iemanjá.



segunda-feira, 16 de junho de 2008

Comunicado

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É com muita satisfação que comunico a todos que a minha petição inicial foi deferida.
Sim, agora, oficialmente, eu sou Advogada!
Minha vontade é de dar um beijo na boca desse Examinador!!! rs

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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Janela de Mim

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Eis que sou feliz, com tanta coisa, e tanta gente, e tanto mundo!
Nada mais singelo do que o pôr-do-sol.
É belo, belíssimo.


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terça-feira, 27 de maio de 2008

Do Ridículo

Excelentíssimo Senhor Doutor Examinador-Juiz da Traçinho Vara Bobalística da Comarca de Traçinho,







Sarah Cherrie, brasileira, solteira não mais por opção, contadora de bobagens e afins, vem, muitíssimo respeitosamente perante Vossa Excelência, por si mesma, apresentar sua DEMONSTRAÇÃO DE FATO RIDÍCULO em face do Exame de Ordem, pelos motivos que passa a expor:

I- Dos Fatos

Dia de Domingo de sol na gloriosa capital de Minas, Belo Horizonte. Manhã, pra mim, manhã bem cedo de um dia de domingo. Acordo, nervosa, pensando no que mais eu poderia dar uma "estudadinha" antes da fatídica prova. O estômago embrulhado sequer cogitava um pãozinho.

Na noite anterior havia arrumado caprichosamente a minha "malinha" (pequenininha, diga-se de passagem - tão pequenina que foi preciso um carrinho). Aquele monte de livros já estava me dando nos nervos! Resolvi guardar tudo, zelosamente, esperando com muito afinco que eles fossem a salvação da prova, afinal, obviamente, não deu tempo de estudar tudo. Nem pra viajar uma mala minha fica tão pesada, meu Deus!

Subi, vagarosamente, a ladeira da Fumec, aflita por descobrir logo qual era a bendita peça que eu teria que fazer nas próximas torturosas horas.

II - Do Ridículo

Cheguei à porta da faculdade e aquele aprumado de jovens estudantes, cada um mais desesperado do que o outro. Caras de sono, olheiras contundentes. Conversas ouvidas sem querer na espera aflita da abertura do portão:

"Pô, cara, mas e aí, e se cair isso, que peça que eu faço? É Carta Testemunhável, não é? Ihiii, tô perdido."
(...)
"Não, esse outro eu não estudei..."
(...)
"Nossa, há quanto tempo! Você tá ótima, hein? Mas, e aí, tem contato com alguém da turma?"
(...)
"Trouxe a coleção inteira do Venosa, e você?"
(...)
"Preciso passar nesse Exame, menina, senão nem sei..."
(...)
"Vou tomar as cervejas do mês inteiro depois dessa prova!"

Era jovem pra falar chega!

E as malinhas? Eis o mais ridículo, que fazia degladiar-me de riso interno, sozinha.

Cada um com sua leve malinha... era cada uma maior do que a outra! Malas de viagem pra Europa em época de frio, e de um mês! Cada um puxando a sua mala de rodinhas: se debatendo umas com as outras, atropelando pés alheios, numa situação sem espaço. Era desajeito pra um lado, desajeito pro outro. A mala que virava, a outra que caia, meninas sem saber o que faziam com tanto peso, namorados dedicados carregando mala até a porta da sala. Rapazes mostrando toda a sua força subindo três lances de escada com a mala num braço, e a da amiga no outro. Devem ter ficado é com dor no braço, isso sim.

Fila gigantesca pro elevador, INSS. O espaço não era bem distribuído entre malas e pessoas. Elas ganhavam a maior parte. Também, pudera! Quem observava a cena de fora, até poderia imaginar que aqueles jovens passaram noites em claro, cervejas que não chegavam, telefonemas não atendidos, tempo em família ausente, tudo em prol do grande dia. E estavámos todos ali, na mesma situação, nervosos, aflitos, se perguntando se ia dar certo.

Quando, finalmente, cheguei na sala que me foi destinada, putz, bati na testa e me lembrei que tinha esquecido de acender a vela pro anjo da guarda! Barrinhas de cereal, suquinhos, chocolates, um crec-crec danado dentro de sala. Dores fora de hora, de barriga, de cabeça, de ouvido. Cada um a seu jeito, expressando a tensão e a expectativa de, enfim, se tornar advogado. Sonho esperado.

III - Da Conclusão

A conclusão é que, embora extremamente ridícula a situação, com todo mundo fingindo pra si mesmo que aquilo era a coisa mais normal do mundo, de muito estresse emocional, muito peso carregado, de bate-bate de malas, e muitas horas de estudo, no final, é gratificante ver que você acertou a peça. Embora os neurônios saíam doendo, a cerveja de depois é mais refrescante que as demais. Agora, é esperar pra ver o tão sonhado resultado. E, se Deus quiser, a aprovação de titular da carteira vermelha: Advogado. Amém.

Posto isso, requer muito ao Examinador passar na prova da OAB.
Termos em que,
Pede e espera deferimento, ansiosamente.

Belo Horizonte, 26 de maio de 2008.

Advogada, se Deus quiser, em breve.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Palpite

Vanessa Rangel

Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor
Tô com saudade de você
Na varanda em noite quente
E o arrepio frio
Que dá na gente
Truque do desejo
Guardo na boca
O gosto do beijo...

Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí!
Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste
E aí!
O amor pode acontecer
De novo prá você
Palpite!...

Tô com saudade de você
Do nosso banho de chuva
Do calor na minha pele
Da língua tua
Tô com saudade de você
Censurando o meu vestido
As juras de amor
Ao pé do ouvido
Truque do desejo
Guardo na boca
O gosto do beijo...

Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí!
Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste
E aí!
O amor pode acontecer
De novo prá você
Palpite!...(2x)

E aí!
Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste

E aí!
O amor pode acontecer
De novo prá você
Palpite!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Amor


Marido e mulher estão tomando cerveja num barzinho.

Ele vira pra ela e diz:

- Você está vendo aquela mulher lá no balcão, tomando whisky sozinha? Pois eu me separei dela faz sete anos! Depois disso, ela nunca mais parou de beber.

A mulher responde:

- Não diga bobagens. Ninguém consegue comemorar durante tanto tempo assim!

hahaha!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Décadas de mim

Nasci nos anos 2000.
Minha infância foi a época das grandes descobertas, da globalização. Era tanta gente num espaço só, que eu me sentia pequenininha e, ao mesmo tempo, grande o suficiente para encher toda uma sala de entretenimento: muita música, muitas peças representadas, informações de todo o mundo ao meu redor. Muitos sonhos, muita expectativa. Eu era a esperança: eu era a Era. Os anos 2000 foram um sucesso só.

Os anos 90 formaram a descoberta de mim mesma. Quem sou eu? A adolescente não sabia bem se era anos 2000 ou anos 80. A tecnologia crescia disparada, e o meu corpo também. A democracia dentro de casa era algo que começava a despontar e eu passei a descobrir um quê-de-eu.

Meus anos 80 foram uma armação ilimitada. Ah, que delícia: cheia de meninice, e com ela, todos os seus brinquedos maravilhosos, que marcaram boa parte de minha vida. Um pouco de Material Girl e um resquício de Diana. Eu já me desenhava nas telinhas, cheia de cores e movimento.

Os anos 70: os anos 70! Eles talvez tenham sido os melhores da minha vida. Eu era. Paz e amor, flores contra canhões. Época de muito amor e muita música também. A disco entrou na minha vida definitivamente para incorporar meu espírito. Eu fui transformação. Cabelos pintados, com bob´s, polainas, glitter, batom vermelho. Tudo era festa - eu era a liberdade de expressão: mente e corpo.

Logo entrei na década de 60 e o ideal de busca pela liberdade tomou conta de mim por inteira. Eu era uma explosão de juventude feminina, calçada de sapatos altos e calças cigarettes, sem esquecer, contudo, da querida minissaia. Trabalhando fora e cuidando da casa, enquanto a Jovem Guarda toca no meu radinho de bolinha. Dominando o mundo e lutando por espaço numa ditadura militar. Uma pimenta ainda retrô. Sim, eu sou nouvelle vague pura!

Meus anos 50 que aguardo ansiosamente. Quero a televisão - e Hollywood também quer! Eu quero a Juventude Transviada num Bonde chamado Desejo. A ficção científica relata cada episódio de vida. Assim, vejo adiante o futuro - os meus queridos anos 50 - cheio de sofisticação, elegância e glamour. Sputnik será lançado, sem volta.

Cada década por vir.






quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ato I

Era uma vez uma princesa, que habitava a mais alta torre do castelo, solitária, tendo somente os passarinhos como companhia, em um reino frio e distante...

Eis que, um dia, o dragão malvado - e era um dragão muito malvado, com cores esquisitas e soltando fogo pelas ventas -, que há muito rondava aquelas terras, invade a torre e pertuba o sono da bela princesa solitária. Cheguei do serviço e havia uma lagartixa em casa.

A princesa, que não era boba nem nada, em um ato de muita bravura e após uma perseguição estupefante, consegue se livrar temporariamente daquele monstro que tanto pertubava os seus dias. Joguei metade - metade mesmo - do remédio de barata tarja preta para áreas externas na bicha. Fez até espuma.

É quando, um nobre cavaleiro que ali passava, consegue se livrar definitivamente do monstro, em um ato veloz de coragem.

Transposto aquele sacrilégio, após uma exaustiva batalha de vida ou morte entre o dragão e a mocinha, a mesma, merecidamente, reune suas amas para lhe preparem o seu banho de rosas e leite perfumado. Era necessário que a princesa corajosa se recuperasse de tamanho desagaste emocional. Imersa em seu delírio terapêutico, eis que, para atrapalhar o banho sagrado, as trevas surgem, inesperadamente. Desesperada e extremamente assustada, a princesa corre ao encontro. Não há encontro. Não há nada. Não há luzes, só trevas. A luz da casa caiu de novo, em plena madrugada.

Nada disso foi suficiente para a estapafúrdia noite princesal. Ainda havia mais a se esperar da malévola força que queria se apoderar dos dons sãos da jovem princesa.

As forças do mal tomaram conta de seu ser e, adentrando em seu espírito como um ato de insanidade, possuíram parte da bela face da princesa. Seu rosto se desfigurava e o pânico surgia. Os ventos rugiam alto, os cães do reino latiam tão alto tanto quanto o limite do céu e as pesadas portas do castelo se atracavam às estribeiras. O som era elevado, absoluto, trazia as vozes do medo e da escuridão. Sozinha, a princesa não mais sabia o que fazer. Aquilo era um pesadelo. Tive um início de paralisia facial decorrente do excesso de remédio de lagartixa.

O príncipe surge, galante em seu cavalo branco, imponente e merecedor de sua altivez. Com ato de extrema bravura e honra, resgata a princesa das forças das trevas e a salva, da forma mais verdadeira em que um príncipe pode salvar uma princesa.

Ele a toma em seus braços e a leva para seu reino, despendendo todo o cuidado e atenção para a cura da jovem, que há muito já havia desfalecido. Reune todos os mais sábios curandeiros da região, preocupado em restabelecer o vigor e as faces rosadas daquela que carrega consigo. E, como todo conto de fadas, a bela princesa se recupera e fica grata para todo o sempre e sempre.

Fui parar no hospital, com crise de pânico, mas, graças ao Príncipe, fiquei mesmo muito bem.

Quanto ao fim da história, caros telespectadores, o vento levou...

FIM.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dieta

Dois Cup Noodles depois de um dia inteiro sem comer. Meninas, essa é a receita para emagrecer. E ficar longe de casa, claro. Morrer de saudades de casa é um aspecto importantíssimo da dieta.

Meu coração começou a ficar inquieto na hora que vi a estradinha de árvores frondosas na entrada de BH. Quando avistei o Shopping meu sorriso já ia de orelha a orelha. E, enquanto o ônibus descia a Nossa Senhora do Carmo, eu descobri o quanto sou apaixonada por essa cidade cheia de coisas e pessoas maravilhosas! O ônibus descia e eu não sabia nem pra que lado eu olhava: queria ver tudo, igual criança pequena em parque de diversão. Fui tomada de um sentimento que há muito eu não sentia. Aquele sentimento de estar apaixonado e ver ao longe a pessoa com quem você tanto sonha, que você anseia por um encontro repentino. Meu coração transbordava de alegria, numa névoa de sentimentos afortunados. A minha vontade era falar com o vizinho de poltrona: "Olha, mas a cidade é linda mesmo, né! Quanta coisa bonita! Mas BH é mesmo maravilhoso, você não acha? Gosto tanto daqui! Moço, olha lá o Marista!" Hahaha! Tive que me segurar para não dar uma de caipira.

Cheguei na casa de mamãe e tinha café! Sopinha quente a noite, à la mamãe-estou-doente-cuide-de-mim. Maravilhoso! E jantar em casa, com direito a prato predileto e almoço caprichado de família no domingo, além de café da manhã com tudo que se tem direito. Comer em casa é mesmo muito bom.

Amigos, família, novidades pra lá e pra cá. Prova da Oab, estresse de 12 horas ininterruptas de cursinho, muitos energéticos a mais, palavras, palavras e palavras, pouco sono, músicas de licitação cantadas horas à fio, letras de lei, conversas na cama, cerveja no postinho, choro incessante pós-prova, telefonemas, andar de mãos dadas, blush, muitos abraços, beijinhos, fofocas e carinho.

E a melhor frase de todas: "Fiquei feliz de chegar em casa e ver a sua chave na porta."

Fim-de-semana de intensidade. E de muita saudade.


"É aqui que eu aaamo
É aqui que eu quero ficaar
Pois não háááá-á-á, lugar melhor que Beagá!"

terça-feira, 22 de abril de 2008

Denúncia-crime

Entrei no apartamento e ela já estava lá. Me assustou - e muito -, a princípio. Como boa moça que sou, cheia de frescuras e mimos - diziam por aí que eu era uma menina muito mimada por papai - gritei e corri tudo o que pude. Chamei alguém para me socorrer, mas ela era mais esperta do que eu. Fugiu.

Esse foi o nosso primeiro encontro.

A antipatia natural não me impediu de saber que o convívio seria inevitável, pelo menos, por aquele tempo.

Numa segunda vez, cheguei e lá estava. Esparramada, senhora de si, dona de todo o espaço, zombando da minha autoridade implícita - no sofá, no meu sofá! Ela me ameaçava com o olhar gelado. Mais alguém veio me socorrer, não me lembro mais quem. Novamente, a sirigaita escapuliu, sem deixar qualquer vestígio.

Algumas vezes ela me atormentou. Cheguei a pensar em homicídio; mas, eu, justo eu? Não teria coragem, é a fraqueza que carrego comigo: não matar.

Na noite anterior ao crime, antes da madrugada, lá estava ela: parada, intacta, convicta de seus poderes em mim, estática. Ela me olhava, mais uma vez, zombeteira. Tentei pedir que fosse embora, insistentemente. Fui racional. Ela não me ouvia. Lembro-me perfeitamente, ela estava na entrada, silenciosa, como sempre. O olhar era suficiente.

Até que, aconteceu. Era noite já e eu chegava sozinha. Acendi as luzes da casa, só para verificar. Eu estava atrasada e nem lembrei de nada. Tinha meia hora para estar pronta. Banho, roupa, sapato, maquiagem, copo d´água, sair.

Eu já estava de toalha, dentro do banheiro, quando ela me aborda. Meu susto foi tal qual que fiquei da cor: branca!

Ela correu de mim e eu corri dela.

Pedi de novo, mais uma e outra vez. Conversava com ela, como uma insana mulher conversa com a parede. Nada. Até de querida eu chamei a moça, na tentativa vã de agradá-la. Já eram indícios de meu crime?

Corri e vi a arma do crime. Não planejei, a arma simplesmente estava ali, próxima de mim. Avancei para cima dela com toda a minha altivez, ainda com medo: de novo, nada. Ela não saia de lá! Nem por Decreto do Sr. Prefeito.

Não foram poucas as minhas tentativas, os senhores estão de prova o tanto que ela, fria e calculista, abusou de mim. Irritada e frustrada, resolvi tomar uma dose. Nada mais me acalmaria naquele momento tenso. Percebi que a meia hora que tinha para ficar pronta já havia se esvaído por inteiro, por culpa dela, só dela.

Aquilo me matou de ódio. Larguei o copo e voltei. (Nessa hora, o crime já estava determinado na minha cabeça, confesso.)

Por sorte minha, ou não, ela estava caída, no chão. No chão do meu box. Não pensei duas vezes em ligar o chuveiro na temperatura mais quente possível. Queria matá-la. Fosse queimada, fosse espancada, fosse afogada, do jeito que fosse.

Aquilo estava claro pra mim. Ela esperneou tanto quanto pode e eu jogava água com o chuveirinho, bem na mira dela. Ela rodava, rodava, rodava, tal qual um redemoinho no chão do meu box. (Coitadinha, confesso que tive dó nessa hora.) Mas nada, absolutamente nada, iria me impedir. Era eu contra ela. Afinal, onde estava aquele olhar zombeteiro agora? Ahn, ahn?

Ela desceu ralo abaixo e eu, não contente, quis deixar o serviço completo. Busquei um balde grande, enchi de água e joguei ralo abaixo. Duas vezes. Bati com o pé algumas boas vezes pra ver se nada mais havia agarrado àquele pedacinho de chão.


Estava feito, homicídio doloso. Sem remorso.






Fato é que, no dia seguinte, me aparece no sofá uma lagartixa parecida. A dúvida foi: irmã revoltada ou highlander? Não me é possível. Acho que a veia assassina-de-lagartixas se instaurou, criativa, para mais uma nova jornada, dolosamente.


- Corri, de novo.






É água ou é luz?

Hoje acordei, pacata, num feriadinho bom para dormir até mais tarde. Fui tomar banho e lavar o cabelo. E não é que, óbvio, com um banho de 30 minutos, caiu a força. Mas não caiu a força só do chuveiro, como é de costume. Caiu a força do apartamento inteiro! Desligou o som e as luzes não acendiam mais!

Pronto, danou-se, pensei eu. Cai a energia do prédio inteiro. Como se já não bastasse o barulho de secador de madrugada, eu desligo a luz de todo mundo em pleno feriado ocioso! Putz! Os meus vizinhos vão mesmo adorar essa ruiva descontrolada!

Vesti roupa e fui até à vizinha de porta. Toquei uma, duas vezes, e nada.

Aí veio uma velhinha, destrancando todas as mil fechaduras da porta (daquelas que fica dias e dias trancada dentro de casa - uma dessas que eu vou, provavelmente, me tornar: bebendo whisky até morrer e vigiando a vizinha com o amante latino. E, no fim, morrendo engasgada com o noque de domingo e sendo descoberta uma semana depois pelo odor nada agradável, quando, então, já estarei com meio rosto comido por meus cachorrinhos pequeneses - É, é triste a vida.)

Enfim, ela abriu a porta e eu, muito educada:

-Desculpe incomodar a senhora, é que a luz na minha casa caiu. A da senhora também?
E ela, com a voz fininha, bem fininha, e baixa:
-Não, aqui tá tudo bem.
-Então a senhora sabe quem é o síndico do prédio?
-Olha, eu conheço ele, ele é bonzinho, é um rapaz... mas eu não sei o apartamento dele não... nem o nome... nem o andar... ah, o nome dele é João... é, é João. É muito bonzinho. Mas aqui em casa tá com água sim.
-Não, acabou foi a luz lá de casa.
-Ah, sei... e você mora aí sozinha?
-Moro sim.
-Eu também moro sozinha, morava lá na roça antes. Hoje em dia todo mundo mora sozinho, né? Mas que bom que você veio morar aqui. Antes, morava um rapaz aqui, que me inibia, sabe? Porque eu gosto de tomar sol aqui na varanda e aí eu ficava inibida porque ele saia toda hora. (Falando baixinho) Eu acho que ele era desempregado, sabe? Porque ele saia o tempo todo. A gente achava que ele tava na rua e ele tava em casa, a gente achava que ele tava em casa e ele tava na rua. É, eu acho que ele era desempregado. Mas eu achei que fosse outra menina que morasse aqui, parecia mais alta...

(Você vê, a velha fica me espionando o dia inteiro.)


-Ah, mas é porque de salto alto a gente fica mais alta mesmo.
-É... mas toca na vizinha aqui de cima. Ela juntou os dois apartamentos, sabe... ficou muito bonito. O nome dela é... ah, eu não sei... o nome dela é... é Paula. Ela é muito boazinha também. Mas a água aqui em casa tá normal.
-Tá bom, Dona Orlinda, foi a luz que acabou, mas obrigada, eu vou tocar lá.

Fui eu tocar na outra vizinha boazinha, que me informou que o síndico era o vizinho da frente que, por sinal, não tinha campainha. Bati na porta. Veio um menino todo amarrotado. Perguntei se era o síndico e ele disse que era o pai dele. (Mas o síndico não era um rapaz??)
Contei sobre o meu problema e ele me disse que tinha que ligar a chave na garagem. Lá fui eu. Voltei pro apartamento: luzes funcionando, oba!

Entretida secando o cabelo, me toca a campainha: Dona Orlinda. Eu, descabelada, fui abrir a porta:

-Oi, Dona Orlinda.
-Oi, minha filha. Mas você conseguiu falar com o síndico?
-Consegui sim, Dona Orlinda.
-Ah, tá, é que se você quiser pode pegar água aqui em casa, que tem bastante. Não acabou não.
-Tá bom, Dona Orlinda, tá bom. Obrigada.

Comédia da vida privada. Mereço?

domingo, 20 de abril de 2008

A moça de 23.



Um dia a gente acorda, olha pro teto e descobre que os anos têm passado mais rápido do que gostaríamos.

Sabe quando a gente começa a perceber que estamos crescendo?
Quando a gente passa a sonhar com o registro de gás - e a marca dele - e ganha microondas como presente de aniversário. É, microondas não é lá o que toda garota espera.
Levanta no meio da noite, só pra ver se trancou a porta. Quando fazer supermercado é parte da rotina e você sabe qual é o melhor sabão em pó. Tem roupas separadas no armário: as de limpar casa e as de trabalhar. Sair: ato excepcional.
Quando a sensação do momento é a loja de pratos, xícaras de florzinha e almofadas. E a enceradeira Nimbus 2000? Caramba! Quando se sabe de cor as medidas de tooodas as janelas da casa, ao invés de saber os telefones de tooodos os gatinhos de cor e salteado. É quando chega sexta-feira à noite e tudo o que você quer ver é a sua cama - Balada? Que palavra é essa? E aí você descobre que ainda tem uma pilha de pratos sujos na pia. E aquela garrafa de vinho pela metade. Vale um trago.
Quando os seus problemas deixam de ser amorosos e passam a ser profissionais. É quando a sua vida não tem tempo suficiente para lembrar de ligar pro namorado. É quando, no táxi corrido de cada dia, a gente pede pra aumentar a hora do brasil, só pra ouvir as últimas notícias; Capricho, nunca mais.


Dos meus singelos anos, tenho algum medo da velhice.
E dirão: mas o que uma moça faz quando escreve sobre a velhice? Com que parâmetros?
E eu respondo: Com os parâmetros de vislumbrar o início e o fim de cada dia, com o parâmetro de não me sentir triste por envelhecer - talvez nostálgica-, mas por ver aqueles que tanto amo envelhecendo junto comigo.
Às vezes, tenho vontade de parar o tempo.
Sábio universo, que não atribui aos homens, o poder prematuro de mexer o tempo.
Tempo que vai, tempo que traz, tempo que voa e que ensina.
O presente de aniversário é a sabedoria de mais um ano de bem viver.