segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dieta

Dois Cup Noodles depois de um dia inteiro sem comer. Meninas, essa é a receita para emagrecer. E ficar longe de casa, claro. Morrer de saudades de casa é um aspecto importantíssimo da dieta.

Meu coração começou a ficar inquieto na hora que vi a estradinha de árvores frondosas na entrada de BH. Quando avistei o Shopping meu sorriso já ia de orelha a orelha. E, enquanto o ônibus descia a Nossa Senhora do Carmo, eu descobri o quanto sou apaixonada por essa cidade cheia de coisas e pessoas maravilhosas! O ônibus descia e eu não sabia nem pra que lado eu olhava: queria ver tudo, igual criança pequena em parque de diversão. Fui tomada de um sentimento que há muito eu não sentia. Aquele sentimento de estar apaixonado e ver ao longe a pessoa com quem você tanto sonha, que você anseia por um encontro repentino. Meu coração transbordava de alegria, numa névoa de sentimentos afortunados. A minha vontade era falar com o vizinho de poltrona: "Olha, mas a cidade é linda mesmo, né! Quanta coisa bonita! Mas BH é mesmo maravilhoso, você não acha? Gosto tanto daqui! Moço, olha lá o Marista!" Hahaha! Tive que me segurar para não dar uma de caipira.

Cheguei na casa de mamãe e tinha café! Sopinha quente a noite, à la mamãe-estou-doente-cuide-de-mim. Maravilhoso! E jantar em casa, com direito a prato predileto e almoço caprichado de família no domingo, além de café da manhã com tudo que se tem direito. Comer em casa é mesmo muito bom.

Amigos, família, novidades pra lá e pra cá. Prova da Oab, estresse de 12 horas ininterruptas de cursinho, muitos energéticos a mais, palavras, palavras e palavras, pouco sono, músicas de licitação cantadas horas à fio, letras de lei, conversas na cama, cerveja no postinho, choro incessante pós-prova, telefonemas, andar de mãos dadas, blush, muitos abraços, beijinhos, fofocas e carinho.

E a melhor frase de todas: "Fiquei feliz de chegar em casa e ver a sua chave na porta."

Fim-de-semana de intensidade. E de muita saudade.


"É aqui que eu aaamo
É aqui que eu quero ficaar
Pois não háááá-á-á, lugar melhor que Beagá!"

terça-feira, 22 de abril de 2008

Denúncia-crime

Entrei no apartamento e ela já estava lá. Me assustou - e muito -, a princípio. Como boa moça que sou, cheia de frescuras e mimos - diziam por aí que eu era uma menina muito mimada por papai - gritei e corri tudo o que pude. Chamei alguém para me socorrer, mas ela era mais esperta do que eu. Fugiu.

Esse foi o nosso primeiro encontro.

A antipatia natural não me impediu de saber que o convívio seria inevitável, pelo menos, por aquele tempo.

Numa segunda vez, cheguei e lá estava. Esparramada, senhora de si, dona de todo o espaço, zombando da minha autoridade implícita - no sofá, no meu sofá! Ela me ameaçava com o olhar gelado. Mais alguém veio me socorrer, não me lembro mais quem. Novamente, a sirigaita escapuliu, sem deixar qualquer vestígio.

Algumas vezes ela me atormentou. Cheguei a pensar em homicídio; mas, eu, justo eu? Não teria coragem, é a fraqueza que carrego comigo: não matar.

Na noite anterior ao crime, antes da madrugada, lá estava ela: parada, intacta, convicta de seus poderes em mim, estática. Ela me olhava, mais uma vez, zombeteira. Tentei pedir que fosse embora, insistentemente. Fui racional. Ela não me ouvia. Lembro-me perfeitamente, ela estava na entrada, silenciosa, como sempre. O olhar era suficiente.

Até que, aconteceu. Era noite já e eu chegava sozinha. Acendi as luzes da casa, só para verificar. Eu estava atrasada e nem lembrei de nada. Tinha meia hora para estar pronta. Banho, roupa, sapato, maquiagem, copo d´água, sair.

Eu já estava de toalha, dentro do banheiro, quando ela me aborda. Meu susto foi tal qual que fiquei da cor: branca!

Ela correu de mim e eu corri dela.

Pedi de novo, mais uma e outra vez. Conversava com ela, como uma insana mulher conversa com a parede. Nada. Até de querida eu chamei a moça, na tentativa vã de agradá-la. Já eram indícios de meu crime?

Corri e vi a arma do crime. Não planejei, a arma simplesmente estava ali, próxima de mim. Avancei para cima dela com toda a minha altivez, ainda com medo: de novo, nada. Ela não saia de lá! Nem por Decreto do Sr. Prefeito.

Não foram poucas as minhas tentativas, os senhores estão de prova o tanto que ela, fria e calculista, abusou de mim. Irritada e frustrada, resolvi tomar uma dose. Nada mais me acalmaria naquele momento tenso. Percebi que a meia hora que tinha para ficar pronta já havia se esvaído por inteiro, por culpa dela, só dela.

Aquilo me matou de ódio. Larguei o copo e voltei. (Nessa hora, o crime já estava determinado na minha cabeça, confesso.)

Por sorte minha, ou não, ela estava caída, no chão. No chão do meu box. Não pensei duas vezes em ligar o chuveiro na temperatura mais quente possível. Queria matá-la. Fosse queimada, fosse espancada, fosse afogada, do jeito que fosse.

Aquilo estava claro pra mim. Ela esperneou tanto quanto pode e eu jogava água com o chuveirinho, bem na mira dela. Ela rodava, rodava, rodava, tal qual um redemoinho no chão do meu box. (Coitadinha, confesso que tive dó nessa hora.) Mas nada, absolutamente nada, iria me impedir. Era eu contra ela. Afinal, onde estava aquele olhar zombeteiro agora? Ahn, ahn?

Ela desceu ralo abaixo e eu, não contente, quis deixar o serviço completo. Busquei um balde grande, enchi de água e joguei ralo abaixo. Duas vezes. Bati com o pé algumas boas vezes pra ver se nada mais havia agarrado àquele pedacinho de chão.


Estava feito, homicídio doloso. Sem remorso.






Fato é que, no dia seguinte, me aparece no sofá uma lagartixa parecida. A dúvida foi: irmã revoltada ou highlander? Não me é possível. Acho que a veia assassina-de-lagartixas se instaurou, criativa, para mais uma nova jornada, dolosamente.


- Corri, de novo.






É água ou é luz?

Hoje acordei, pacata, num feriadinho bom para dormir até mais tarde. Fui tomar banho e lavar o cabelo. E não é que, óbvio, com um banho de 30 minutos, caiu a força. Mas não caiu a força só do chuveiro, como é de costume. Caiu a força do apartamento inteiro! Desligou o som e as luzes não acendiam mais!

Pronto, danou-se, pensei eu. Cai a energia do prédio inteiro. Como se já não bastasse o barulho de secador de madrugada, eu desligo a luz de todo mundo em pleno feriado ocioso! Putz! Os meus vizinhos vão mesmo adorar essa ruiva descontrolada!

Vesti roupa e fui até à vizinha de porta. Toquei uma, duas vezes, e nada.

Aí veio uma velhinha, destrancando todas as mil fechaduras da porta (daquelas que fica dias e dias trancada dentro de casa - uma dessas que eu vou, provavelmente, me tornar: bebendo whisky até morrer e vigiando a vizinha com o amante latino. E, no fim, morrendo engasgada com o noque de domingo e sendo descoberta uma semana depois pelo odor nada agradável, quando, então, já estarei com meio rosto comido por meus cachorrinhos pequeneses - É, é triste a vida.)

Enfim, ela abriu a porta e eu, muito educada:

-Desculpe incomodar a senhora, é que a luz na minha casa caiu. A da senhora também?
E ela, com a voz fininha, bem fininha, e baixa:
-Não, aqui tá tudo bem.
-Então a senhora sabe quem é o síndico do prédio?
-Olha, eu conheço ele, ele é bonzinho, é um rapaz... mas eu não sei o apartamento dele não... nem o nome... nem o andar... ah, o nome dele é João... é, é João. É muito bonzinho. Mas aqui em casa tá com água sim.
-Não, acabou foi a luz lá de casa.
-Ah, sei... e você mora aí sozinha?
-Moro sim.
-Eu também moro sozinha, morava lá na roça antes. Hoje em dia todo mundo mora sozinho, né? Mas que bom que você veio morar aqui. Antes, morava um rapaz aqui, que me inibia, sabe? Porque eu gosto de tomar sol aqui na varanda e aí eu ficava inibida porque ele saia toda hora. (Falando baixinho) Eu acho que ele era desempregado, sabe? Porque ele saia o tempo todo. A gente achava que ele tava na rua e ele tava em casa, a gente achava que ele tava em casa e ele tava na rua. É, eu acho que ele era desempregado. Mas eu achei que fosse outra menina que morasse aqui, parecia mais alta...

(Você vê, a velha fica me espionando o dia inteiro.)


-Ah, mas é porque de salto alto a gente fica mais alta mesmo.
-É... mas toca na vizinha aqui de cima. Ela juntou os dois apartamentos, sabe... ficou muito bonito. O nome dela é... ah, eu não sei... o nome dela é... é Paula. Ela é muito boazinha também. Mas a água aqui em casa tá normal.
-Tá bom, Dona Orlinda, foi a luz que acabou, mas obrigada, eu vou tocar lá.

Fui eu tocar na outra vizinha boazinha, que me informou que o síndico era o vizinho da frente que, por sinal, não tinha campainha. Bati na porta. Veio um menino todo amarrotado. Perguntei se era o síndico e ele disse que era o pai dele. (Mas o síndico não era um rapaz??)
Contei sobre o meu problema e ele me disse que tinha que ligar a chave na garagem. Lá fui eu. Voltei pro apartamento: luzes funcionando, oba!

Entretida secando o cabelo, me toca a campainha: Dona Orlinda. Eu, descabelada, fui abrir a porta:

-Oi, Dona Orlinda.
-Oi, minha filha. Mas você conseguiu falar com o síndico?
-Consegui sim, Dona Orlinda.
-Ah, tá, é que se você quiser pode pegar água aqui em casa, que tem bastante. Não acabou não.
-Tá bom, Dona Orlinda, tá bom. Obrigada.

Comédia da vida privada. Mereço?

domingo, 20 de abril de 2008

A moça de 23.



Um dia a gente acorda, olha pro teto e descobre que os anos têm passado mais rápido do que gostaríamos.

Sabe quando a gente começa a perceber que estamos crescendo?
Quando a gente passa a sonhar com o registro de gás - e a marca dele - e ganha microondas como presente de aniversário. É, microondas não é lá o que toda garota espera.
Levanta no meio da noite, só pra ver se trancou a porta. Quando fazer supermercado é parte da rotina e você sabe qual é o melhor sabão em pó. Tem roupas separadas no armário: as de limpar casa e as de trabalhar. Sair: ato excepcional.
Quando a sensação do momento é a loja de pratos, xícaras de florzinha e almofadas. E a enceradeira Nimbus 2000? Caramba! Quando se sabe de cor as medidas de tooodas as janelas da casa, ao invés de saber os telefones de tooodos os gatinhos de cor e salteado. É quando chega sexta-feira à noite e tudo o que você quer ver é a sua cama - Balada? Que palavra é essa? E aí você descobre que ainda tem uma pilha de pratos sujos na pia. E aquela garrafa de vinho pela metade. Vale um trago.
Quando os seus problemas deixam de ser amorosos e passam a ser profissionais. É quando a sua vida não tem tempo suficiente para lembrar de ligar pro namorado. É quando, no táxi corrido de cada dia, a gente pede pra aumentar a hora do brasil, só pra ouvir as últimas notícias; Capricho, nunca mais.


Dos meus singelos anos, tenho algum medo da velhice.
E dirão: mas o que uma moça faz quando escreve sobre a velhice? Com que parâmetros?
E eu respondo: Com os parâmetros de vislumbrar o início e o fim de cada dia, com o parâmetro de não me sentir triste por envelhecer - talvez nostálgica-, mas por ver aqueles que tanto amo envelhecendo junto comigo.
Às vezes, tenho vontade de parar o tempo.
Sábio universo, que não atribui aos homens, o poder prematuro de mexer o tempo.
Tempo que vai, tempo que traz, tempo que voa e que ensina.
O presente de aniversário é a sabedoria de mais um ano de bem viver.