terça-feira, 4 de agosto de 2020

10 anos faz.
Esse foi o tempo que demorei a retornar.

Mas tudo o que estava dentro de mim lá não podia ficar.
Escoado, reprimido, amargurado - é preciso libertar.

Dos turbilhões de emoções, se descobrirá um novo desabrochar.
Da fina flor de outrora, uma irá reverberar.

Serão as letras e palavras que irão me encontrar.
Pois elas fazem parte de mim e, sem elas, não haverá.

Feliz.


22.05.2020

Encontro com Deus


Inverno lisboeta. Fim de tarde.
Encontro-me sentada no jardim externo da Universidade na qual tenho feito meus estudos.
Os bancos são de madeira e o chão é pedregulhoso. São pequenos os arbustos que caracterizam o jardim tipicamente europeu. Poucas flores, algumas poucas sobreviventes. É inverno e porto casaco.
Estou só.

Aquele fim de tarde amplamente anunciado me reporta a olhar para cima. As poucas nuvens que se encontram na minha frente varrem as cores azul-cinzento de um céu invernal. Meus olhos pairam ao redor por alguns instantes.
Os passarinhos fazem barulho. Voam perto, timidamente.
Eles também estão ali. Fazem parte daquele mundo, fazem parte dos elos intrinsecamente ligados.
Um mosquito que passa à minha frente me mostra a vida em detalhes.
Um pouco mais distante, o vento que canta e que eu gosto de ouvir.
A sensação que carrego é a de estar absolutamente em paz, inserida dentro do todo ao meu redor.
Naqueles poucos instantes, eu sou parte desse mundo grande. Eu e os passarinhos.
Éramos um o outro: as nossas almas estavam conectadas.
E também o vento, o mosquito e os arbustos à volta.
Eramos todos uma só alma, uma grande alma. Um mundo grande.
Único.
Um.
Só.

Quis agradecer. Achei por bem uma oração. Não as tradicionais palavras decoradas, mas uma oração d´alma, do saber a exteriorização de Deus. E que os passarinhos O eram, e eu também. Éramos todos.
Ele era eu assim como eu era Ele.
Naquele momento, lembrei-me de todas as pessoas que eu amo. Elas que estão sempre comigo.
Parte daquele mundo era também o sentimento de amor que trago.
Me vi só, mas não solitária.

Olhei para baixo e vi as minhas próprias pernas, que caminhavam sozinhas, ancoradas por esse mundo grande e pelo amplo amor que carrego atrás de mim. Sorrio.

Assim, levantei-me e segui de volta para a Universidade. As botas invernais faziam barulho naquele silêncio divino. Era o barulho dos meus passos abrindo a porta e entrando de novo no mundo terreno.

Agradeci a Ele a possibilidade de me deslocar entre os dois mundos, de saber que eles existem e da dádiva de me reconhecer dentro deles.
Meu encontro com Deus.


02.03.2014

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Saudade


"Nem só de scarpins, ousadia e competência é feito esse seu início profissional em cidade estranha, eu sei!
Também é feito de geladeira vazia, saudade de casa, solidão e - lógico! - lagartixas!"
Acertadamente, como não poderia deixar de ser, palavras de um alguém que a mim conhece muito e que me é muito caro.


Por aí e aqui, já andei espiando de algumas janelas. Espiei de janelas altas e janelas baixas. Em dias de chuva e em dias de sol. Em invernos solares e em verões cinzentos.
Destas janelas, procuro ver o mundo sob outras perspectivas. Busco olhar com olhos além dos meus.
Busco, sobretudo, olhar com amor. Com tolerância, com vontade de ver mais, de saber mais, de aprender mais.
Nem sempre é possível. Nem sempre consigo.
Às vezes queria ver com olhos que não fossem os meus.
Às vezes me pergunto o porquê desse tanto buscar.
Das tantas janelas em que pousei meus olhos, tenho visto lugares mágicos, pessoas maravilhosas e - mais do que isso - tenho visto, através destas, as minhas próprias janelas.
(Eu e as minhas janelas internas...)
Às vezes tenho medo.
Às vezes, solidão.
Às vezes me canso desse provar constante.
De se mostrar e demonstrar. De lutar. De buscar os vitrais.
Às vezes, tudo o que eu queria era um lugar onde repousar,
uma janela grande, com vista para o mar e um solzinho de manhã a brilhar.


Se fosse possível conceituar saudade, se fosse possível expressar tudo aquilo que tenho dentro.
Saudade de ver, de tocar, de cheirar.
Saudade de abraçar, de beijar, de sentir, de olhar.
Saudade desse amor grande, sem limites e sem requerimentos.
Saudade grande.
Família, amigos, tudo.
Só saudade.

domingo, 27 de setembro de 2009

Il rosignolo


Il paesaggio, il verde fuori, l´azzurro del cielo: passano veloci.
Il treno vola.
Con lui, vola anche il mio cuore. Vola veloce, vola senza sapere dove arriva.
Vola pieno d´emozione, vola da dentro a fuori e da fuori a dentro.
Libero, triste, felice.
- Pieno.
Questi sentimenti che mi accompagnano per la vita.
Sono proprio questi che mi danno ali.

Volo.

Peró, non volo da sola.

Pezzi di brillanti, luminosi.
Si mescolano a me.
Diventano parte di me stessa.
Ogni splendore, ogni luce, ogni parte.
Splendono, risplendono.
Ogni persona che mi accompagna.
Che fanno parte di quello che sono, che fanno parte della mia anima, del mio cuore.
Particolari.

Voliamo insieme, facciamo nel cielo una stella in più, dove in ogni momento ci possiamo trovare.
L´uccello, nell cielo brilla, ma ce la fa per i suoi brillanti.

Nella bell´Italia ho trovato un pezzo di casa, ho trovato amore, ho trovato persone vive.
Ho trovato un pezzo in più.
Ha fatto di me parte di sé.
Ha fatto di sé parte di me.
Ringrazio, ringrazio, ringrazio.
Ringrazio di essere così fortunata.
Di poter essere così amata e di poter amare sempre di più.

"L´essenziale è invisibile agli occhi"
Saint-Exupéry

P.S. Questo è dedicato ai miei carissimi amici della scuola: Alessandra, Barbara, Cristina, Daniele, Elisa, Federico, Francesco, Giorgio, Pier Paolo, Rosella, Salete, Samuele, Simona; e a tutti quegli amici che ho conosciuto lì - ce ne sono tanti! - e che hanno fatto di questi mesi un´esperienza meravigliosa.
Da giugno a Settembre 2009.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Gente de cá, Gente de lá

Sobre o velho clichê Ano Novo, Vida Nova.

Dois mil e nove anos depois de Cristo é um ano que chegou com cara de esperança; com cara de novidade. Para mim, para você, para todo mundo.

Ano Internacional da Astronomia (você sabia?), que se traduz no conceito de "transmitir o entusiasmo pela descoberta pessoal, o prazer de partilhar conhecimento sobre o Universo e o nosso lugar nele e a importância da cultura científica"1. Assim também Obama chega à Presidência, com clima de renovação, com espírito limpo, com olhos abertos para o futuro. Uma nova era, um novo tempo que começa, inclusive para mim. Esse ano tem cheiro de novidade, de mudanças, de descobertas. Muita água pra rolar debaixo dessa ponte.

Com olhos abertos para o Futuro, mas com um rabo de olho para o Passado, hoje andei refletindo sobre a gente de todo o mundo que faz parte do meu mundo.

Dois mil e nove anos depois de Cristo, mas modestos vinte e três anos - quaaaaase vinte e quatro - depois do meu singelo nascimento, vejo quanta gente passou por aqui e acolá.

Amigos, namorados, ficantes, colegas de estudo, colegas de serviço, amigos de balada, gente que passou um dia ou dois, gente que fez sentido, gente que não fez. Gente que sobressaiu, gente que me marcou, gente de todo tipo. Gente alta, baixa, magra, gorda, careca, cabeluda. Personalidades variadas, todo tipo de signo humano.

Alguns amigos ficaram mais próximos, outros, mais distantes. A vida foi levando cada um para o seu canto, para a sua própria história, para o destino que lhes era atribuído.

Mas para dizer a verdade, eu amo gente demais nessa vida.

Tenho amor - amor mesmo - pelas pessoas que se encarregaram de formar o projeto de gente que eu sou hoje. Amei cada uma dessas pessoas quando as conheci e continuei amando todas elas, mesmo que à distância. Mesmo que eu não lhe veja sempre, que eu não tenha mais o seu número de telefone, que não lhe deseje feliz ano novo a cada começo. Eu tenho amor àqueles que fizeram parte da minha existência. Sou grata.

Um comentário que me fez ver por outro ângulo, um período que dividi com alguém, uma balada que foi única, o conhecimento que me foi transmitido, a partilha de vida - detalhes somados. Partilhei momentos da minha vida com muita gente, gente de cá e gente de lá. Gente que faz sentido no meu coração. Cada qual no seu canto, na sua direção, no seu próprio mundo, vocês fazem parte do meu também.

Mesmo que você não saiba, eu amo você. Obrigada.
E Felicidades no ano da esperança.
------------------------------------

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Despedida





Última noite na cidade querida.


Encaixotadas todas as miudezas, embalados todos os móveis, finalizado tudo que fez com que aquela casa fosse minha. O apartamento vazio não tem vida a outros olhos, mas, para mim, ele - que, carinhosamente, me ganhou dia após dia -, de forma singela, é capaz de representar muito.

No começo, a casa era enorme. Depois, vieram os sons e as cores, e ficou tudo aconchegante. E tudo ficou alegre.

Com o apartamento vazio e a última mala na mão, o olhar dos cômodos me dizia muito mais do que eu poderia imaginar no começo. Foram muitas as coisas vividas ali. E foram boas.

Não pude deixar de me sentir saudosa, um pouco triste, um pouco alegre. Saber que vem mais pela frente me faz feliz, mas o apego a uma época maravilhosa deixa o coração um pouco pesado.

Até Dona Orlinda - a minha vizinha velhinha - disse que vai sentir falta dos meus barulhos! Imagina, então, a falta que eu não vou sentir disso tudo...



Mas, em tempo, o Café lá em Casa continua, em novas casas, em novos rumos, em novas aventuras e des-venturas... A Moça de 23 está quase fazendo 24! Santo Deus!


domingo, 16 de novembro de 2008

Sabbats


Cada peça foi importante. Cada detalhe, cada curva, cada desvio. Todos os momentos de intensas saudades, de gritos internos, de loucura externada, de parede alva. Sim, havia momentos em que a brancura das paredes me engolia sem saber pra quê nem porquê: Me cuspiram repaginada.

Perdi as fórmulas, reinventei as perguntas, questionei a minha própria essência. Troquei de nome, de personalidade, me virei do avesso. Emprestei conceitos, criei os meus próprios. Duvidei de mim, trouxe à baila o exótico de ser simplesmente eu. Embriaguei-me dos sentimentos confusos.

Lavei panelas, carreguei mudança no braço, briguei, odiei e fui odiada. Aprendi a esperar, a ser mais tolerante e mais paciente. Fiz vigília, fui à missa, me senti única no mundo, perdida, achada. Lembrei canções de infância nas noites em que tive medo, há muito perdidas na memória. Chorei, muito. Mesmo que por dentro. Senti saudades que não cabiam no meu peito. Ocupei o silêncio das horas com a voz dos meus pensamentos. Muito silêncio.

Mas só assim é que eu me encontrei.

Lá de dentro, não extraí tudo o que podia, mas tudo o que pude. Eu sou até o infinito e de todas as formas que ele pode ser, ainda muito a ser descoberto.



"Valeu à pena?
Tudo vale à pena

Se a alma não é pequena

Quem quere passar além do Bojador

tem que passar além da dor.

Deus, ao mar, o perigo e o abismo deu

mas nele é que espelhou o céu."

(Fernando Pessoa, Mar Português. Recitado desde criança.)